Provignage: Um vinho pré-Filoxera
Elaborado a
partir de vinhas de Romorantin com mais de 160 anos!
No final do século XIX, a
Filoxera, um afidio amarelo minúsculo, espalhou-se pela
Europa, matando todos
os vinhedos num ritmo devastador, e se deslocando mundo a fora. A destruição
dos parreirais foi tamanha que muito produtores acreditavam que os vinhedos
estavam condenados e que o vinho iria desaparecer.
Denominada inicialmente
de Phyloxera Vastatrix (a devastadora). Mas hoje identificada
como o inseto Dactylasphaera Vitifloliae, a Filoxera se alimenta das
raízes da videira. Sendo nativas da América, convivia em certa harmonia com as
videiras nativas, por isso ficou desconhecida por séculos. Contudo, as videiras
européias e asiáticas mostraram-se suscetíveis, quando por volta de 1858 a
1860, parreiras nativas da América foram enviadas para o sul da França como
experiência, a Filoxera até então desconhecida, pegou carona nas raízes.
A Filoxera era tão fatal
quanto misteriosa. Minúsculo demais para ser visto a olho nu, o inseto promoveu
destruição de forma silenciosa. As parreiras amarelavam, murchava e depois
pereciam lentamente. Às vezes quando as uvas conseguiam amadurecer, gerava um
vinho fraco e aguado.
Inúmeros defensivos foram
tentados. Na França, por exemplo, os vinhedos foram ensopados de produtos
químicos, inundados de água e até irrigados com vinho branco. Nada parecia
funcionar. Somente 1868, o biólogo francês Jules-Emile Planchon e dois colegas
descobriram por acaso um enxame de Filoxera sugando as raízes de uma planta é
que suspeitou-se que a causa da morte das vinha poderia ser isto. Então em
1870, quanto o etomologo americano Charles Valentine Rile, confirmou a teoria
de Planchon.Sabendo a causa dois viticultores franceses, Leo Laliman e Gaston
Bazille, sugeriram a possibilidade de que a variedade de videira vinífera podia
ser enxertada em porta-enxertos de videiras americanas, resistentes a Filoxera.
Funcionou.
Porem em 1998, Henry
Marionnet, considerado o “Papa do Gamay”, do Domaine de La Charmoise, ao
receber uma oferta de “um vizinho camponês” exclamou: “Quem você pensa que eu
sou? Um parisiense?”, a oferta tratava-se de um lote de 4 hectares de vinhas
pré-Filoxera. Pelo que foi abordado até
aqui sobre essa terrível praga, não é difícil de imaginar o ceticismo e a
desconfiança de Marionnet quando viu pela primeira vez essas plantas tão
antigas!
Se Fosse autenticas
seriam um verdadeiro tesouro, talvez difícil de calcular em termos financeiros,
mas ouro puro nas mãos hábeis de um vinicultor com conhecimentos históricos.
Marionnet chamou especialistas e estes declararam que eram vinhas de
Romorantin. Eles aceitaram como “provavelmente”
verdadeiros os indícios de que o vinhedo fora plantado em 1850 e
sobreviveu a crise da Filoxera em 1870.
Então Marionnet comprou o lote e começou a vinificar o Provignage.
A cepa utilizada trata-se
da rara Romorantin, é um cruzamento entre as outras também
desconhecidas Pinot Teinturier e Blanc Gouais, esta última muito
promiscua, desempenhando um papel importante na origem de muitos dos atuais chamadas variedades
nobres, incluindo Chardonnay, Aligoté, Gamay, Melon de Bourgogne, Petit
Meslier, Colombard e até mesmo Riesling, bem como a variedade mais
antiga Elbling. A cepa foi Trazida da Borgonha para o Loire, em
1519 pelo rei François I, segundo a tradição. Já foi uma das uvas mais
cultivadas na região, Porem com o tempo foi perdendo terreno para as mais
populares Sauvignon Blanc e Chenin
Blanc, hoje está confinada à pequena
denominação Cour-Cheverny, na
qual pelo que parece reina absoluta como única variedade permitida. Como o
vinhedo que Marionnet fica fora de Cour-Cheverny ele engarrafa o
Provignage como Vin de Pays du Jardin de La France.
Longe de encantar somente
pelo seu grande valor histórico que soa como poesia nostálgica, tem uma
qualidade que esta à altura. De Cor amarela claro, aromas de flores, mel,
pimenta branca, cevada e um toque de brioche, no paladar e complexo, viscoso,
muita acidez e mineralidade, muito encorpado, um vinho robusto e muito
persistente. Certamente inesquecível!
Saber desse vinho me
induziu a pensar que quando as vinhas foram plantadas, Napoleão III reinava
sobre a França e muitos fatos
importantes aconteciam no mundo.
Alguns fatos ocorridos
em 1850:
v
Lei Eusébio de Queiroz: Proibia a entrada de
africanos escravizados no Brasil.
v
Descobriu-se ouro na Califórnia e teve inicio a
Corrida do ouro, que acelerou ainda mais a marcha para o Oeste no Estados
Unidos.
v
Califórnia tornou-se o 31º estado
Norte-Americano.
v
Morreu o químico francês Louis Gay-Lussac
Por:Marcelo Carvalho
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