domingo, 12 de agosto de 2012

Provignage: Um vinho pré-Filoxera





Provignage: Um vinho pré-Filoxera



Elaborado a partir de vinhas de Romorantin com mais de 160 anos!







   No final do século XIX, a Filoxera, um afidio amarelo minúsculo, espalhou-se pela Europa, matando todos os vinhedos num ritmo devastador, e se deslocando mundo a fora. A destruição dos parreirais foi tamanha que muito produtores acreditavam que os vinhedos estavam condenados e que o vinho iria desaparecer.

   Denominada inicialmente de Phyloxera Vastatrix (a devastadora). Mas hoje identificada como o inseto Dactylasphaera Vitifloliae, a Filoxera se alimenta das raízes da videira. Sendo nativas da América, convivia em certa harmonia com as videiras nativas, por isso ficou desconhecida por séculos. Contudo, as videiras européias e asiáticas mostraram-se suscetíveis, quando por volta de 1858 a 1860, parreiras nativas da América foram enviadas para o sul da França como experiência, a Filoxera até então desconhecida, pegou carona nas raízes.

   A Filoxera era tão fatal quanto misteriosa. Minúsculo demais para ser visto a olho nu, o inseto promoveu destruição de forma silenciosa. As parreiras amarelavam, murchava e depois pereciam lentamente. Às vezes quando as uvas conseguiam amadurecer, gerava um vinho fraco e aguado.

   Inúmeros defensivos foram tentados. Na França, por exemplo, os vinhedos foram ensopados de produtos químicos, inundados de água e até irrigados com vinho branco. Nada parecia funcionar. Somente 1868, o biólogo francês Jules-Emile Planchon e dois colegas descobriram por acaso um enxame de Filoxera sugando as raízes de uma planta é que suspeitou-se que a causa da morte das vinha poderia ser isto. Então em 1870, quanto o etomologo americano Charles Valentine Rile, confirmou a teoria de Planchon.Sabendo a causa dois viticultores franceses, Leo Laliman e Gaston Bazille, sugeriram a possibilidade de que a variedade de videira vinífera podia ser enxertada em porta-enxertos de videiras americanas, resistentes a Filoxera. Funcionou.

   Os vinhedos pelo mundo foram extirpados, parreira a parreira e replantados em bacelos americanos. Hoje em dia, a maioria dos vinhos mundiais provem de videiras que cresceram de raízes americanas.

   Porem em 1998, Henry Marionnet, considerado o “Papa do Gamay”, do Domaine de La Charmoise, ao receber uma oferta de “um vizinho camponês” exclamou: “Quem você pensa que eu sou? Um parisiense?”, a oferta tratava-se de um lote de 4 hectares de vinhas pré-Filoxera.  Pelo que foi abordado até aqui sobre essa terrível praga, não é difícil de imaginar o ceticismo e a desconfiança de Marionnet quando viu pela primeira vez essas plantas tão antigas!

   Se Fosse autenticas seriam um verdadeiro tesouro, talvez difícil de calcular em termos financeiros, mas ouro puro nas mãos hábeis de um vinicultor com conhecimentos históricos. Marionnet chamou especialistas e estes declararam que eram vinhas de Romorantin. Eles aceitaram como “provavelmente”  verdadeiros os indícios de que o vinhedo fora plantado em 1850 e sobreviveu a  crise da Filoxera em 1870. Então Marionnet comprou o lote e começou a vinificar o Provignage.

   A cepa utilizada trata-se da rara Romorantin, é um cruzamento entre as outras também desconhecidas Pinot Teinturier e Blanc Gouais, esta última muito promiscua, desempenhando um papel importante na origem de muitos dos atuais chamadas variedades nobres, incluindo Chardonnay, Aligoté, Gamay, Melon de Bourgogne, Petit Meslier, Colombard e até mesmo Riesling, bem como a variedade mais antiga Elbling. A cepa foi Trazida da Borgonha para o Loire, em 1519 pelo rei François I, segundo a tradição. Já foi uma das uvas mais cultivadas na região, Porem com o tempo foi perdendo terreno para as mais populares Sauvignon Blanc  e Chenin Blanc,  hoje está confinada à pequena denominação Cour-Cheverny,  na qual pelo que parece reina absoluta como única variedade permitida. Como o vinhedo que Marionnet fica fora de Cour-Cheverny ele engarrafa o Provignage como Vin de Pays du Jardin de La France.

   O nome Provignage refere-se ao método de propagação das videiras, utilizado antes da Filoxera, em que um galho da mesma era enterrado, enraizava e depois era separado da vinha-mãe, gerando uma nova planta independente. Um nome mais do que adequado.

   Longe de encantar somente pelo seu grande valor histórico que soa como poesia nostálgica, tem uma qualidade que esta à altura. De Cor amarela claro, aromas de flores, mel, pimenta branca, cevada e um toque de brioche, no paladar e complexo, viscoso, muita acidez e mineralidade, muito encorpado, um vinho robusto e muito persistente. Certamente inesquecível!

   Saber desse vinho me induziu a pensar que quando as vinhas foram plantadas, Napoleão III reinava sobre a França e  muitos fatos importantes aconteciam no mundo.



Alguns fatos ocorridos em 1850:





v  Lei Eusébio de Queiroz: Proibia a entrada de africanos escravizados no Brasil.

v  Descobriu-se ouro na Califórnia e teve inicio a Corrida do ouro, que acelerou ainda mais a marcha para o Oeste no Estados Unidos.

v  Califórnia tornou-se o 31º estado Norte-Americano.

v  Morreu o químico francês Louis Gay-Lussac







  Por:Marcelo Carvalho




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